sábado, 26 de janeiro de 2013

Entender a Memória - Parte 2

Em seguimento do post Entender a Memória – Parte 1, hoje é dia de falar sobre o filme Minight in Paris de Woody Allen. E porquê? Porque trabalha a ideia humana daqueles que consideram que nasceram na época errada e porque ao explorar uma das facetas do Modernismo, o realizador nunca ignora o passado e estuda-o de forma a que possamos aprender com ele. Aqui, o Modernismo mostra-se como um período novo e inovador mas com raízes no antigamente que são mostradas através da ideia que o passado, sob a forma de memórias, deve sempre estar presente.

Allan Stewart Königsberg, mais conhecido por Woody Allen, é um cineasta notável, cujas obras cinematográficas tratam modelos comportamentais do ser humano. Em Midnight in Paris, a história recai no personagem argumentista de Hollywood, Gil Pender, fascinado pela cidade de Paris, pelos anos 20 e pelos artistas desta época. Trabalha num novo argumento que consiste na criação de uma loja de nostalgias direcionada para pessoas com um enorme gosto pelo passado. Porém, a sua noiva Inez e os seus pais são uma típica família americana que, nesta história, é retratada de forma consumista, carecida de valores artísticos e intelectuais, ao que não entendem as ideias de Gil.
Ao ignorar aspetos fúteis relativos ao casamento, Gil descobre Paris à noite e perde-se na época de que tanto gosta. É levado para uma festa de Jean Cocteu com Cole Porter em pessoa a tocar ao piano a emblemática canção que relaciona o seu gosto por Paris, Let’s Do It. A partir daí, Gil conhece muitos nomes sonantes desta época completamente bem representados e com uma semelhança física impressionante por parte dos atores que os encarnam.

Adriana (Marion Cotillard) e Gil (Owen Wilson)

Ao evocar grandes nomes de génios modernistas, o que acontece nesta obra fílmica é uma autêntica memória conservada de várias gerações que, claramente, estão distantes entre si. Enquanto Gil desejava viver nos anos 20, Adriana (personagem que Gil encontra numa das viagens à sua época) preferia ter vivido na Belle Époque. Quando os dois conseguem viajar até à Belle Époque, para alegria de Adriana, encontram Henri Toulouse-Lautrec, Paul Gauguin e Edgar Degas que defendem que a melhor época para se ter vivido consistia na do Renascimento. Concluímos que Woody Allen transmite que o presente de cada personagem é maçador e que se vive na ilusão de se estar melhor no passado.

Midnight in Paris é então uma reflexão sobre o passado. Se por um lado, o realizador pretende mostrar o modo como certas pessoas se sentem deslocadas do seu tempo, por outro mostra que tudo é relativo, que esse aspeto não passa de “uma imperfeição romântica dos que tem dificuldade em lidar com os desafios do presente” (ALLEN, 2011). Tudo se resume então ao plano psicológico, à ideia de que não existe passado, apenas presente e que é nesse período temporal que temos de lidar com as nossas limitações e frustrações. 

Uma visão bem marcada pela opinião do realizador sobre a nossa posição no espectro temporal. Concordam que o tempo ideal para nós é realmente aquele em que vivemos? 
Para quem se inspira nos anos 20 ou Belle Époque para o seu dia-a-dia é uma obra excelente para ver os outfits e make-ups da época.

_________________________
ALLEN, Woody. Midnight in Paris, 2011

9 comentários:

  1. adoro esse filme! só o woody para nos trazer algo desta qualidade! quanto à tua pergunta, e falando por mim, apesar de me vestir segundo as regras de algumas décadas passadas, não me vejo a viver nessas épocas (embora hajam coisas actuais que eu meta de parte - como alguma da tecnologia inútil que inventam). mas gosto muito de viver o agora, sem esquecer o passado. no fundo gosto de combinar o ontem e o hoje! x

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    1. Exato, viver nessas épocas não devia ser fácil. Acho que, atualmente, temos mais vantagens a esse nível (principalmente as mulheres). E é mesmo verdade o facto de haver, cada vez mais, tecnologia inútil :\ Também sou da mesma opinião, acho que o engraçado é mesmo podermos balancear o passado e o presente :)

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  2. Narcissa, quando assisti esse filme eu amei. Ele me respondeu uma pergunta que fazia a mim há muitos anos, mas não conseguia achar resposta. Ele representa bem o momento em que vivemos com essa volta pelo gosto vintage e retro.

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    1. Considero uma das grandes obras de Allen :)Sim, retrata bem aquelas pessoas que se sentem deslocadas do seu tempo.

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  3. oi! primeira visita que faço a seu blog e já caio de amores pelo seu texto!
    Também analisei o 'Midnight' em uma matéria do meu mestrado ao passado que se chamava 'Memória e Identidade'; enfim, amei fazer a matéria, pois sou loucamente apaixonada pelo passado e também fiz um ensaio sobre essa transição entre presente e passado, que , no meu caso é extremamente difícil de ser feita (aqui está o texto: http://applemenina.blogspot.com.br/2012/05/memorias-em-roupas.html)

    um grande bjo

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    1. Muito obrigada! Adorei o teu texto, também li os livros que constam na tua bibliografia. Confesso que o Bergson é um pouco difícil de perceber, tive de me concentrar muito. Já a problemática dos lugares de Pierre é mais leve.
      Fazes uma boa relação entre o passado e as roupas, simplesmente excelente :) E amo quando dizes que "o presente está tão entediante que recorremos ao passado", é mesmo um grande facto!

      Obrigada por seguires :)

      ***

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  4. i love this film so much!!!
    i also think that past is always the best hehe
    i following u already,but accidentally choose the private follow
    do you know how to make it public??

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    1. It's a really great movie indeed :)
      I dont know, never happened to me. Try to go to the followers options, you might find something there :)

      ***

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  5. Eu gostei bastante desse filme..
    agoratopronta.blogspot.com.br
    Vanessa

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