sábado, 15 de junho de 2013

Serigrafias de Marilyn Monroe

Em seguimento do post anterior, hoje escrevo sobre as famosas serigrafias de Marilyn Monroe.

Com estas pinturas, Warhol pretendeu relacionar a arte com a sociedade mediatizada. São uma autêntica denúncia das atuais sociedades mediadas pelos meios de comunicação. O artista tentou mostrar o quanto as celebridades podem ser vazias e impessoais e, graças à serigrafia representou a impessoalidade do objeto produzido em massa para o consumo. Norma Jean era um símbolo cultural da época que os meios de comunicação lançaram e assumia apenas o papel de uma personagem diante destes meios – a de Marilyn Monroe. Com isto, em muitos trabalhos de Warhol, a repetição desta celebridade tem um papel essencial, “espelha a réplica visual através da qual Marilyn foi apresentada ao mundo”.

O ano de 1962 marcou a primeira vez em que o artista representou a atriz num quadro chamado The Six Marilyn’s. Ao escolher uma imagem promocional de Marilyn, o artista aumentou o seu rosto, replicou-o em seis vezes e manipulou a imagem ao aumentar a ostentação do batom, da sombra dos olhos, a oxigenação do penteado louro e cores muito contrastantes para realçar a ideia de glamour e de estrelato. 

The Six Marilyn’s

Arrisco a afirmar que nesta obra, Warhol faz uma espécie de resumo da vida de Marilyn ao distorcer o seu rosto de forma a dar ênfase à artificialidade da sua imagem, da exagerada comercialização da mesma que a levou ao declínio. Marilyn falece durante o sono, quando tinha apenas 36 anos de idade, vítima de overdose de medicamentos que tomava na tentativa de poder controlar a sua vida.

Warhol acaba por utilizar várias vezes a mesma imagem durante a década de 60 mudando-lhe apenas aspetos relacionados com a cor. Retratou a natureza ilusória do estrelato e se analisarmos algumas das imagens podemos encontrar algumas ideias interessantes do artista. Uma delas tem a ver com o contorno dos lábios de Marylin: o artista não tem cuidado com os defeitos da impressão que não coincidem com os lábios da atriz. Também não branqueou os seus dentes deixando então uma ideia de exagero, superficialidade e oposição ao retrato tradicional. O facto de os olhos de Marylin estarem pintados exageradamente em termos de maquilhagem também mostra a construção de padrões de beleza nas sociedades industrializadas. Finalmente, o cabelo da atriz parece irreal. Uma concisa linha limita o seu cabelo fazendo parecer que o seu rosto é uma máscara e os cabelos uma peruca mostrando então a ideia máxima de artificialidade.

Estes quadros não procuram demonstrar a personalidade de Marylin, muito antes pelo contrário. Warhol escolhe-a pelo seu grande poder de sedução. Pretende igualar estes quadros repetitivos aos meios de comunicação de massa que nos bombardeiam constantemente com variados tipos de informação, do mesmo género.

Esta série de pinturas foi então inovadora, pois Andy Warhol concebeu um novo sistema em que o código de cores é reinventado. Faz uma reflexão crítica à singularidade da obra de arte, dirigiu-se para o grande público, mostrou que a arte pode ser barata, descartável e que pode ser criada em massa. Estas pinturas foram um fenómeno mundial, não só pelo seu carácter popular mas também pela universalidade da comunicação que o artista desejava transmitir.

Warhol conseguiu então criar arte a partir de elementos que não eram, de todo, considerados artísticos. Se prestarmos atenção e analisarmos todo o seu trabalho, podemos vislumbrar a mensagem que ele nos deixa. A arte de Andy Warhol avisa-nos sobre os perigos de um cada vez mais manipulador e artificial século.

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SHANES, Eric 2005, Andy Warhol, Lisma Editora, Lisboa.


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